Gênero ou classe nominal, em gramática, é um aspecto que permite classificar certas classes gramaticais (substantivos, verbos, adjetivos etc.) em um número fixo de categorias. Alguns lingüistas distinguem a classe nominal, que diz respeito apenas a nomes e pronomes, do gênero propriamente dito, que afeta também outras classes gramaticais.
Gênero nas línguas indo-européias[]
Nas línguas indo-européias, o mais comum é haver três gêneros: masculino, feminino e neutro, como em latim, grego ou alemão - ou dois gêneros: masculino e feminino, como em português.
Quando refere-se a seres vivos sexuados, o gênero geralmente é ligado ao sexo biológico do indivíduo. Nos demais casos, a atribuição é arbitrária, podendo um mesmo nome ser referido como masculino numa língua (ex.: le lit, em francês, feminino numa segunda (ex.: a cama, em português) e neutro numa terceira (ex.: das Bett, em alemão. Variam também, de idioma para idioma, das classes que variam ou não quanto ao gênero.
Gênero nas línguas bantu[]
Segundo Carl Meinhof, as línguas bantu têm um total de 22 classes nominais por ele numeradas, nenhuma delas correspondente a conceitos indo-europeus de "gênero".
Nenhuma língua possui todas, mas a maioria tem ao menos dez e algumas chegam a 19. Essa classificação e sua numeração por Meinhof são muito usadas na comparação de línguas bantu, mas na verdade combinam a noção de gênero com a de número.
Se singular e plural forem reunidos no mesmo gênero, então a quantidade de gêneros se reduz a 10 para o Luganda (19 na contagem de Meinhof), 11 para o Sesotho (18 segundo Meinhof) e 8 ou 9 para o suaíli (15 segundo Meinhof).
Eis uma lista completa das classes nominais em suaíli:
Numeração de Meinhof |
Prefixo | Significado costumeiro |
---|---|---|
1 | m-, mw-, mu- | singular: pessoa |
2 | wa-, w- | plural: pessoas |
3 | m-, mw-, mu- | singular: planta |
4 | mi-, my- | plural: plantas |
5 | ji-, j-, Ø- | singular: fruta |
6 | ma-, m- | plural: frutas (também plural das classes 5, 9 e 11, raramente 1) |
7 | ki-, ch- | singular: coisa |
8 | vi-, vy- | plural: coisas (plural de 7) |
9 | n-, ny-, m-, Ø- | singular: animal, coisa |
10 | n-, ny-, m-, - | plural: animais, coisas (plural de 9 e 11) |
11 | u-, w-, uw- | singular: sem significado semântico claro |
15 | ku-, kw- | nomes verbais |
16 | pa- | locativos: perto de algo |
17 | ku- | locativo indefinito ou significado diretivo |
18 | mu-, m- | locativo: dentro de algo |
Ø- significa ausência de prefixo. Algumas classes usam os mesmos prefixos (como 9 e 10). A classe 12 do bantu desapareceu em suaíli, a classe 13 fundiu-se com a 7 e a 14 com a 11. Os prefixos de gênero também aparecem em adjetivos e verbos, por exemplo:
- Kitabu kikubwa kinaanguka. (cl.7-livrocl.7-grande cl.7-PRESENTE-cair)
- ‘O livro grande cai.’
Os marcadores de gênero que aparecem nos adjetivos e berbos podem diferir dos prefixos nominais:
- Mtoto wangu alikinunua kitabu. (cl.1-filhocl.1-meucl.1-PASSADO-cl.7-compracl.7-livro)
- ‘Meu filho comprou um livro.’
Neste exemplo, o prefixo verbal a- e o pronominal wa- concordam com o nominal m-: todos expressam a classe 1, apesar de suas formas diferentes.
Gênero nas línguas construídas[]
Nas línguas naturais, inflexões de gênero nos substantivos são normalmente acompanhadas pela concordância em seus modificadores. Mesmo no inglês, no qual o gênero raramente é marcado, precisa haver concordância entre os pronomes possessivos e seus antecedentes. "*Jane hurt his leg" e "*John broke her arm" são incorretos (ou depreciativos), se "his" e "her" referem-se a Jane e John, respectivamente.
Algumas línguas construídas, porém, têm flexão de gênero sem concordância de gênero. Um exemplo é o sufixo -ino, em Esperanto, que pode ser usado para transformar patro, "pai" empatrino, "mãe." É questionável se o conceito de gênero é aplicável a esta língua.
O Ido tem o infixo masculino -ul e o feminino -in para seres animados. Ambos são opcionais e usados apenas quando é necessário evitar ambigüidade. Assim, kato, gato; katulo, gato macho; katino, gata. Há pronomes de terceira pessoa singulares e plurais para os três gêneros: masculino, feminino e neutro, mas também pronomes comuns.
A Interlingua não tem gênero gramatical. Usa inflexão de gênero apenas para indicar o sexo biológico, como em matre, 'mãe' e patre, 'pai'. O uso de desinências femininas é optativo. Por exemplo, -a pode ser usado no lugar de -o- em catto, para produzir catta, 'gata'. Professora pode ser usado para denotar uma mulher e actrice para significar 'atriz', mas os correspondentes masculinos também são usados como comuns. A Interlingua tem pronomes femininos, mas suas formas pronominais masculinas são também usadas como comuns.
O Klingon tem três gêneros: capaz de falar, parte do corpo e outros.